15.2.11

Gestão Pública da Cultura (1)



A relevância da Cultura para os órgãos de gestão pública é o primeiro aspecto, e o mais importante, que deve ser tratado ao se falar de gestão cultural. Diversos órgãos de importância internacional já alertaram os dirigentes de todos os cantos do planeta para a centralidade da cultura em qualquer Plano Estratégico de Estado que vise o desenvolvimento humano. A “Agenda 21”, aprovada em 2004, defende que a diversidade cultural é o maior patrimônio da humanidade. Diga-se de passagem, a Alemanha nazista provou e deixou marcado na história, da forma mais criminosa possível, o papel nuclear e estratégico da cultura.

Entretanto, todos os que observam a forma como se dá a composição das estruturas dos governos municipais, estaduais e federal, no início de cada gestão, percebem que, dentre todas as “pastas”, a que se refere à cultura é considerada uma das menos importantes. Geralmente é utilizada como barganha para acomodar os apoiadores de menor força política ou inconvenientes.

O resumo da ópera é que muitos dos que assumem os cargos de administrador cultural na gestão pública não tem a mínima ideia do que isto seja, ou melhor, tem sim uma mínima ideia. Segundo a filosofa e ex-Secretária de Cultura de SP, Marilena Chauí, existem três aspectos mais geralmente mobilizados quando se fala em cultura: saber de especialistas; campo das belas artes; instrumento de agitação política. Como saber de especialistas, a cultura é algo que alguns, com competência, fazem e possuem, e por isso mandam, enquanto os demais a recebem passivamente. Como campo das belas artes a cultura é própria de quem possui talento ou formação específica. Como agitador político, a cultura reúne as duas características acima para produzir mensagens para atrair e persuadir a consciência da massa a serviço da política. Esses aspectos são anti-democráticos, pois diferenciam hierárquicamente produtores e receptores de cultura ou simplesmente a instrumentaliza para finalidades eleitoreiras.

Sendo instrumento de poder, simples entretenimento ou instrumento de marketing, o que se percebe é que a cultura, ou a ação cultural, é avaliada segundo o número de “consumidores” que alcançou com seu produto final. A cultura, desta forma, não é pensada em sua extensão crítica e reflexiva, deixa de ser pensada como um processo amplo que envolve a criação, não apenas a criação das belas artes, mas também a criação da própria condição humana.

Qualquer pessoa é capaz de expressar o mundo ao seu redor, todos somos agentes da própria memória e para isso não é necessário um pincel, uma câmera ou um violão. A capacidade de criação do ser humano é ilimitada, mas é hoje condicionada pelos produtos da indústria cultural. Cabe ao Poder Público estimular a criatividade e a diversidade cultural. E isso não pode se resumir à levar a cultura, a bela arte ou shows de massa para os mais diversos locais e sim permitir o florecimento das culturas.    

Darlan Cavalcanti
Graduando em Ciências Sociais

3 comentários:

  1. Pra mim, na verdade, as pastas comandadas pelos "administradores culturais" deveriam ter outro nome. Pois pra mim, o trabalho que é feito nas Secretarias Municipais ou Estaduais de Cultura, assim como no Ministério da Cultura, se resume apenas a organização e, no máximo, fomento de produções artísticas. A Cultura propriamente, como descrito neste texto, bem como em outro texto postado anteriormente pela Bárbara, é algo muito mais complexo, envolvendo praticamente todas as relações sociais, portanto, algo transversal a todas as pastas da Administração Pública.

    Portanto, eu não reconheço a atual "Gestão Pública da Cultura". Pra mim, as Secretarias de Cultura, tal como existem atualmente, deveriam ser chamadas de "Secretaria da Promoção Artística". O mesmo para o chamado MinC.

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  2. E essa foto do Serra com o Dominguinhos???

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  3. Eu vejo de uma forma diferente, Renato. O que precisa ser definido pelos Gestores Culturais é seu próprio objeto. A "Cultura" a ser trabalhada pelas políticas culturais precisa ser claramente delimitada. A cultura pensada como este "algo complexo e transversal" deve orientar toda a gestão pública, inclusive a gestão de política cultural. E os gestores de cultura devem pensar nos direitos culturais, ou seja, no direito de criação, produção, distribuição e fruição dos chamados "bens culturais", sejam eles materiais ou imateriais, como a memória, por exemplo. Por isso eu acho que "Secretaria de Promoção Artística" não contemplaria esse sentido de cultura, mas eu acredito que "Secretaria de Políticas Culturais" seria um bom nome.

    A foto do Serra é para ilustrar um dos aspectos que os administradores de cultura mais levaram em consideração até hoje, o da cultura como um instrumento eleitoral.

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