24.3.11

Corte de vagas e extinção de curso na USP




Vou relatar em linhas gerais como está a situação. A USP leste foi criada em 2005, contendo 10 cursos de graduação. Passados mais de 6 anos de existência, hoje conta com mais 3 programas de mestrado, com previsão de abrir mais 4 programas ainda este ano, é a segunda maior unidade da USP.
 No ano passado foi montada uma comissão para avaliar o primeiro ciclo de vida da EACH (nome da unidade, popularmente conhecida como usp leste), esta comissão foi coordenada pelo Melfi (por ironia ou não ele era o reitor quando a unidade foi aprovada e implementada) e gerou como resultado ao longo de algumas poucas discussões (os professores dos cursos e alunos não foram ouvidos) um relatório.
Neste relatório sugere algumas modificações, sendo duas de grande impacto: diminuição de vagas dos cursos e possível extinção do curso de obstetrícia. Segue a tabela da sugestão do relatório, retirei do site do IG http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/usp+leste+pode+fechar+mais+de+300+vagas/n1238177421365.html 

Cursos existentesvagas atuaiscorte de vagascomo ficaria
Ciências da Atividade Física603030
Gestão Ambiental1204080
Gerontologia601050
Gestão de Políticas Públicas12020100
Licenciamento de Ciências da Natureza1208040
Lazer e Turismo12020100*
Marketing12020100
Obstetrícia60600**
Sistema de Informação18030150
Têxtil e Moda602040
Total1.020330690
                                  Novos cursos
Mídias Digitais30
Design de Serviços30

   Alguém pode estar se perguntando os motivos do corte de vagas, o relatório é ruim, muito mal escrito e elaborado. Um dos motivos, pasmem, da justificativa é que a concorrência é baixa. A média de relação candidato vaga para os cursos da EACH é de 5. Incrível, em um país marcado pelo problema crônico de falta de vagas suficientes em Universidades Públicas, eles querem diminuir as vagas por achar a que a concorrência é baixa, argumento extremamente elitista. Mas aí vem a pergunta: o que sustenta este argumento? é uma visão da elite uspiana que gerações de seus familiares estudaram ou estudam na USP, desde o avó até os filhos, e portanto acreditam que estudar na Universidade de São Paulo é um privilégio, uma questão de status e não de direito. Pois se tem "muitas" vagas no cursos, a relação candidato vaga fica relativamente baixa e a nota de corte diminui, pronto, afetou o status da USP, qqr um pode entrar. É o argumento mais conservador e elitista, e senso comum na reitoria da USP.

O ideal, em uma sociedade justa e não desigual, onde o diploma de universidade pública não seja um instrumento de diferenciação social, de manutenção de status de uma classe é que a relação candidato/vaga fosse 1. Exatamente como é o ensino médio, que todos tivesse direito ao acesso, como é na Europa, lá praticamente não há grande disputa de acesso, o ensino superior é universalizado. 

Outro fator para esta postura da reitoria (e não é somente em relação a EACH, é uma proposta do reitor Rojar é que todos os cursos com baixa procura sejam ou diminuídos ou fechados) é a expansão de Universidades Federais e outras públicas. Hoje a pessoa não depende somente da USP para estudar, por mais que ela tenha status, com a expansão de vagas no ensino superior a posição da USP fica abalada, isto a elite uspiana não aceita.


Em relação ao caso do fechamento do curso de obstetrícia, é outra disputa de poder e visão de mundo. Não conheço a fundo, pois não fiz este curso, mas o pouco que conheço através de colegas que o fizeram é que tal curso prioriza a saúde da mulher, a saúde preventiva, o parto natural em detrimento da linha de produção de cezáreas, algo extremamente lucrativo para os planos médicos. Além de interesses econômicos corporativos há disputa por garantir a reserva de mercado para os enfermeiros e médicos, profissionais hoje que tem a prerrogativa de fazer os partos. O Conselho de Enfermagem nega-se a conceder o certificado para as profissionais de obstetrícia exercerem a profissão. Somente no Brasil, um país extremamente desigual é que uma corporação dita o que é melhor para a saúde pública.


Bom, dado esta contextualização, direi em que pé está a articulação política.

Um grupo de representantes discentes da EACH que me conhece (participamos juntos do movimento estudantil) me procurou para entrar em contato com o Alencar, disseram que iriam procurar apoios nos deputados estaduais do PT. Na terça feira (dia 22) fomos para a ALESP (Assembléia Legislativa) conversar com os deputados, o grupo conversou com todos os deputados do PT. Houve uma conversa  mais a fundo com o Simão Pedro, Luiz Cláudio, Marcolino e com o Alencar, parlamentares que o grupo tem mais acesso.  Ficou combinado uma agenda de luta.O deputado federal Paulo Teixeira já foi avisado.
Estamos também fazendo uma movimentação para usar os mandatos de senadores, pois dá peso político e visibilidade. O Guilherme 68 já entrou com contato com o Suplicy. O Gustavo que trabalha com a Marta já sensibilizou a senadora. O objetivo que eles questionem oficialmente a USP sobre isto.

Ontem, quarta feira (23) o Geraldo Alckimin esteve em Ermelino Matarazzo para uma inauguração de algum equipamento público. Um grupo de alunas de obstetrícia sentou e conversou com ele expondo toda a situação. Ele não sabia de nada (foi o que disse) e falou que iria ligar na USP e saber o que estava ocorrendo e que em principio iria defender a manutenção do curso. Segue o link da reportagem do IG http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/governador+promete+ajuda+contra+fechamento+de+curso+da+usp+leste/n1238187030422.html

Outro encaminhamento é elaborar um dossiê ou contra-relatório para enviar para os jornais ou revistas contra-hegemônicos: Carta Capital, Caros Amigos, Le mond diplomatic e outros para expor a postura elitista da USP

Minha avaliação é que toda esta movimentação fará a USP ficar na defensiva, tudo depende do grau de pressão que fizermos. E temos que ir pra cima, pois se isto ocorrer na EACH, será o primeiro passo para uma reestruturação proposta pela reitoria em toda a USP, isto é, promover fechamento de vagas em diversos cursos de "baixa demanda".

Heber Silveira Rocha
Bacharel em Gestão de Políticas Públicas

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